quinta-feira, 7 de junho de 2012

Contemplação

     E ela corria livremente pelos campos. A brisa suave, as flores, a grama balançando... Tudo combinava com ela. Com seu cabelo ruivo, sua pele branca, seu belo corpo – apesar de um pouco enrijecido pelo trabalho campestre – e com o seu sorriso. Deus do céu, que sorriso aquela jovem tinha.
     Todo dia, o mesmo ritual se repetia. Eu apenas espreitava por trás de pequenos morros, deitado na grama, a observando. Sempre a mesma cena. Os campos, compostos por pequeninos morros. A grama meio grandinha balançando pelo leve vento, que carregava consigo o cheiro, o pólen e as pétalas das flores que se espalhavam pelo local – principalmente algumas rosas, violetas e margaridas, cujas pétalas inundavam o local. Também havia alguns beija-flores. E ela. Sempre girando ao redor daquele campo, contemplando aquelas paisagens, com olhos brilhantes e um sorriso. Até repousar em um pé de maçã, aonde descansava. Às vezes olhava para longe, para uma pequena capela perto das árvores, agora abandonada. Uma vez aquilo deve ter sido cheio de pessoas. Agora era refúgio de alguns animais. Do mesmo jeito que esta paisagem é o refúgio dela para os trabalhos estafantes do campo.
     Um dia eu hei de tomar coragem, sair do meio da grama e ir falar com ela. Mas por hora, apenas a contemplarei. Todo dia. Como um quadro belo que você não se cansa de olhar, e olhar, e olhar. Do mesmo jeito que vir aqui é para ela um refúgio, a observar – e ter certo amor platônico – é o meu.
     E de repente a noite caía. E ela se retirava para sua casa. Eu também me retiro, após ter certeza que ela sumiu. Ir para minha cabana, onde a chaleira chiava, e onde posso ter os melhores sonhos possíveis. Deitado, com a cabeça apoiada em seu colo, apenas conversando, trocando beijos e contemplando a paisagem.
     Um dia eu hei de fazer essa cena se tornar real.
     Um dia...

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